sábado, 11 de julho de 2009

Entrevista com o Cientista Carlos Paz


Por Gustavo Santos


Nascido em Natal e radicado nos Estados Unidos há mais de 30 anos, Carlos Paz de Araújo, é PhD em Engenharia Eletrônica. Sócio-fundador da Symetrix Corporation, empresa americana que está, aos poucos, se firmando no Brasil. Esse cientista é um dos mais importantes no mundo quando o assunto é eletroeletrônica.

Participou da primeira edição da Quinta da Ciência, programa de divulgação científica criado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern). Carlos Paz explicou um pouco de seu trabalho durante entrevista realizada ao Blog INFORMAÇÃO DA CIÊNCIA e anunciou boas perspectivas para a ciência brasileira.

Entrevista:

Gustavo Santos: Como o senhor vê a ciência aqui no Brasil? Ela tem caminhado?
Carlos Paz: Essa é uma pergunta muito complicada. Ela tem caminhado muito, mas ela está muito ligada a demonstrar ao resto do mundo que se faz alguma coisa, mas vamos fazer alguma coisa mais nossa. Existe muita duplicação do que já existe no resto do mundo. Eu me lembro do laiser do DVD, lembro que nos anos 80 queriam fazer fábrica, mas perdeu, não fez, e agora querem fazer de novo, não adianta. Agora temos que fazer daqui pra frente.

Gustavo Santos: No Brasil a maioria das pesquisas são financiadas pelo governo, e suas pesquisas quem financia?
Carlos Paz: Uma mistura de governo e entidade privada, hoje mais entidade privada.

Gustavo Santos: Em que estágio está a sua área de atuação aqui no Brasil?
Carlos Paz: Está começando a receber muita visibilidade. Eu estava desconhecido aqui no Brasil esses anos todos, além disso, tem o problema de ser Nordestino. Tudo acontece em São Paulo. Hoje não, quando começaram a me copiar em São Paulo, as coisas ficaram diferentes. Quando vou a São Paulo, eles me dão todo o prestigio e apoio de uma maneira que eu nunca vi em minha vida.

Gustavo Santos: Já é um exemplo para o Brasil?
Carlos Paz: São Paulo me trata muito bem, muito bem mesmo e Brasília também, quando vou a Brasília, vejo que o pessoal me respeita. Quem não me conhecia passa a conhecer e meu nome passa a circular, porque antigamente não circulava.

Gustavo Santos: O senhor está montando uma fábrica aqui no Brasil?
Carlos Paz: Sim. Em São Paulo.

Gustavo Santos: Quando? Já tem previsão?
Carlos Paz: Rapaz depende das documentações, que não é mole. Já faz um ano, mas que é muito difícil. A fábrica para esse tipo de chip, custa mais de 200 milhões de dólares.

Gustavo Santos: O investimento nas empresas é feito apenas por você?
Carlos Paz: Não, são várias pessoas, eu nunca boto meu dinheiro em investimento fraco. Eu invento patenteio e vendo as patentes. Então por exemplo, ta vendo essa placa aqui? a Panasonic me deu essa placa, celebrando que desde 1991 eu trabalhava com eles. Então eles fizeram à memória. No Japão, todo metrô, todo trem, o cartão de crédito é o tickets para você entrar. Então você passa, não precisa nem tirar da carteira, já lê, você já entra direto no trem. Vai mudando de estação, não tem esse negócio de comprar tickets, nem nada. Se for comprar comida ou qualquer coisa em uma loja, usa como cartão de crédito, então ficou um cartão único, não tem esse negócio de dá troco.

Gustavo Santos: O senhor acredita que teria condições de desenvolver uma tecnologia como essa, aqui no Brasil, se não tivesse se mudado para os Estados Unidos?
Carlos Paz: Não. Porque isso aqui você tem que ta no ambiente onde tem gente querendo resolver certos problemas, você não pode vender trem, onde não tem trilho. O cara tem que estar lá no momento certo, na hora certa. Naquela época quando eu sai daqui, não tinha nem escola de engenharia elétrica, aqui na universidade. Então fiz a opção, ou ia para São Paulo ou Estados Unidos. Os Estados Unidos, era muito mais barato ir para lá. Depois que cheguei lá, tive muita sorte devido à família que fiquei lá, pois eles tinham a tradição de ir para uma grande universidade, que tem lá nos Estados Unidos. A universidade de Notre Dame, que é famosíssima lá. Leva mais ou menos 25 mil pessoas, entra mil e quinhentas, hoje já está 40 mil pessoas, para entrar 2 mil e quinhentas. Então entrei e ficou todo mundo surpreso, como é que um cara feio que só entrou, mas eu entrei e pronto. Quando eu terminei o bacharelado, me deram bolsa para mestrado, quando eu terminei o mestrado, me deram bolsa para doutorado, quando eu terminei o doutorado, me deram um contrato para ser professor. Depois eu fui para a Universidade de Colorado onde passei os últimos 25 anos. Então fui fazendo tecnologia e ao mesmo tempo criando companhias. Esse modelo, em vez de está dependendo do governo e verbas essas coisas, eu fiz o modelo do vale do sir. Vamos criar e fazer um plano de negócios e fazer firmas. Eu fiz três firmas, essa Simetrix que é minha última firma. E hoje continuo ainda fazendo firma e ajudo a fazer firmas em outros países. No Japão nós temos uma firma que eu sou dono de mais ou menos 30%, que nós criamos para ajudar o japonês. É uma firma de chip desse jeito, que usa em concreto, uma pílula como uma pedra, você joga no concreto, então quando faz o prédio, que está todo feito, você chega com a pistola e sabe quem pregou o cimento, porque se cair se tiver um terremoto, vai em cima de quem fez o cimento errado.

Gustavo Santos: Para encerrar, gostaria que você deixasse uma mensagem, para a população do estado do RN, que hoje em dia tem você como exemplo, um cientista conhecido internacionalmente.
Carlos Paz: Minha mensagem é que, existem muitos Carlos Paz, que precisam ter incentivo, e que na época não existia tanta facilidade, tanto acesso. Hoje com internet você é cidadão do mundo. E precisa só haver uma maneira de incentivar os jovens que queiram realmente fazer ciência com seriedade e que eles também mantenham viva a idéia que a gente deve contribuir para a sociedade, e não viver só dela.

4 comentários:

  1. Pode ter certeza que esse blog foi favoritado. Muito boa a iniciativa de vocês. Parabéns !

    ResponderExcluir
  2. Pelo que li, Carlos Paz ainda tem muito o que dar para nosso país. É um exemplo a ser seguido por todos os jovens. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Perfeito! Um jovem nordestino que quis fazer a sua história, que batalhou e venceu na vida e que teve a consciência de usufruir do seu sucesso para ajudar o próximo, bem como, incentivar os novos empresários. Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Muito bacana essa sua iniciativa, realmente o público brasileiro é carente de divulgação científica, principalmente quando se trata do jornalismo científico.Te parabenizo pela atitude, e vejo que você realmente está correndo atrás do seus objetivos. Fico muito feliz em saber que você tem seguido um caminho de vitórias. É isso, vá em frente, mostre todo seu potencial. Tenho certeza que mais na frente, conseguirás mostrar o seu trabalho ao mundo.
    PARABÉNS!!!!!

    ResponderExcluir